Acho que comigo não tá muito não (haha), pois como alguém pode esquecer que tem duas histórias escritas?
Hoje vou disponibilizar uma que escrevi para o desafio "Estações de Trem" que foi proposto pela minha amiga (linda) e escritora Paula Guimarães.
A proposta era escrever acontecimentos que se passavam em diferentes estações de trem/metrô ao redor do mundo no mesmo dia (31/08).
A história foi postada no site de fanfictions Nyah Fanfiction, até agora tem cinco capítulos. O nome dela é Nos Trilhos do Mundo.
E aqui vai a minha...
DE UMA VENEZA À
OUTRA
Por Gisele Santos
Era 31 de agosto de 2015
e eu estava na estação de trem de Veneza quando o vi, era moreno, cabelos lisos
que tocavam os ombros com suavidade. Em uma de suas mãos levava uma mala que
parecia conter sonhos de tão grande e estufada que estava. Agarrada à outra mão
estava uma menina que saltitava ao seu lado, contendo sonhos também, só que
dessa vez, em seus olhos.
Meio que um filme da
minha vida começou a passar em minha mente. Os dias de minha infância em que eu
vivia brincando na rua, do meu pai me levando pela mão às praças com ele, lugar
esse que eu aprendi a jogar os jogos mais divertidos e viciantes com os
senhores de idade que estavam lá todos os dias. Ele me levava exatamente com
aquele homem levava aquela menina.
Consequentemente, me
lembrei dos dias mais marcantes, dos dias de mudança.
Meus aniversários que
eram comemorados em anos alternados, apenas nos pares, até chegar aos meus
quinze anos. Depois desse dia, fiz um acordo com meus pais para que o dinheiro
que seria gasto nas festas, passasse a ser guardado em uma conta para eu usar
em algo quando eu fosse mais velha... participar de um intercâmbio ou apenas
viajar.
Usei um pouco do dinheiro
em minha formatura do ensino médio, o que ficou eu usei oito anos depois,
quando eu nem me lembrava mais que tinha esse dinheiro.
Fiz minha graduação em
Arquitetura e Urbanismo em uma faculdade pública de Recife, cidade que morei
com meus pais e irmãos durante minha vida toda. Desde então, fiz minhas
especializações na área e hoje estou com vinte e sete anos, em Veneza –
nordeste da Itália, para fazer meu doutorado.
Minha maior surpresa foi
quando meus pais chegaram e deram o cartão da minha conta no banco, aquela que
eu nem me lembrava que ainda a tinha. Eles tinham colocado dinheiro em minha
conta até depois que eu me casei, e eu só poderia mexer no dinheiro depois dos
vinte e cinco anos.
Eu
havia me casado aos vinte e três, com muito sufoco de minha parte e de meu
marido que no tempo estava fazendo mestrado em um estado diferente do meu. Nos
casamos e tivemos três dias juntos, depois voltamos para nossas
especializações.
Minha
mãe disse que ainda pensou em me ajudar com o casamento na época, mas desistiu,
pois sabia que se eu precisasse realmente de algo, eu a avisaria.
Passei
todo meu mestrado viajando de ônibus, por ser mais barato, para visitar meu
marido. Ele tinha mais facilidade em pegar caronas com caminhoneiros, até eu já
tinha pego, mas ele não gostava, então ajudava com as minhas passagens e
tentava vir de carona.
Vivíamos
de promoções e trabalho duro, mas nada disso nos separou.
Quando
eu engravidei, foi um momento de susto e felicidade.
Eu
tinha acabado de terminar meu mestrado e passado num concurso público. Meu
marido também estava voltando de seu mestrado, poderíamos finalmente nos
estabilizar em um lugar.
Três
anos depois, veio a grande surpresa. Fui convidada para fazer meu doutorado em
Veneza. Na mesma hora fiquei aflita e sem saber o que fazer.
De
Recife para Veneza, de uma Veneza à outra.
Tive
todo apoio possível de minha família para vir pra cá. Estou aqui há um ano.
Foi
um ano sem ver minha filha e seis meses sem ver meu marido.
Em
nenhum momento desde que cheguei em Veneza, toquei no dinheiro que meus pais me
deram. Exceto pra uma coisa.
E essa coisa foi o motivo
para eu me levantar do banco em que eu estava sentada e ir ao encontro daquele
moreno de cabelos longos, da criança que ele trazia em uma de suas mãos, e
daquela mala de sonhos.
Afinal,
aqueles eram os meus sonhos também.
...
Espero que tenham gostado!
Agradeço ao pessoal do FTEL pela oportunidade de me fazer escrever sobre algo diferente. Foi pequeno, mas foi com amor.
Beijos, queridos, amo vocês <3
Que a palavra mais frequente na sua vida seja amor, pois dele tudo vem.
“Vida
longa e próspera!”